27 anos do assassinato de Paulo Porto, um dos maiores comunicadores da história de Patos.
Entre os bárbaros assassinatos
registrados na cidade de Patos, talvez nenhum tenha revoltado tanto a
população pelo alto grau de brutalidade, como aquele que vitimou o
radialista Paulo Ayres Porto. Tratava-se de um deficiente físico,
eficiente profissional da comunicação e, como resultado do seu trabalho
coerente, recém escolhido para representar o povo no Poder Legislativo
Municipal. Conhecido o fato surgiram as primeiras dúvidas: Crime
Político? Crime Passional? Sequestro? Acerto de Contas? Inveja?
Perversidade? Estávamos diante de uma incógnita que perduraria até, não
se sabe quando.
Patos em Revista
Paulo Ayres Porto, 34 anos, radialista e
vereador eleito, filho de Manoel de Morais Porto e Severina Ayres
Porto, foi visto pela última vez na noite do dia 07 de dezembro de 1992,
em companhia da empresária Alba Liene Pereira Viana, viúva, 26 anos,
com a qual mantinha laços de amizade e, segundo informações, se
destinavam a uma seresta no município de São Mamede, conduzidos em uma
pick-up Ford Pampa, cujo veículo seria encontrado no dia seguinte,
abandonado no município de Quixaba, que fica localizado a oito
quilômetros de Patos.Após uma caça patrocinada pela polícia e
amigos do radialista, os dois corpos foram encontrados, por volta das
16:00 horas do dia seguinte, em uma vala próxima ao Aeroporto Brigadeiro
Firmino Ayres, amarrados com as mãos para trás, as cabeças esmagadas
por golpes de pedras e paus. O mais intrigante é que o fato acontecera
bem perto de um dos postos da Operação Manzuá. Aliás, os PM’s de plantão
informaram que o carro havia passado na estrada, conduzindo apenas as
duas futuras vítimas.
Cerca de 10 mil pessoas compareceu ao
velório e sepultamento de Paulo Porto, cujo corpo fora conduzido ao
Cemitério de São Miguel em uma viatura dos Bombeiros e sepultado por
volta de 11:00 horas da quarta-feira, 09 de dezembro. Às 16:00 horas
aconteceu o mesmo com a outra vítima, Alba Liene.
O
crime revoltou a população patoense e o clamor por justiça foi
deflagrado, imediatamente, por diversos segmentos da sociedade, com
ênfase à classe política e os clubes de serviços. A Polícia Civil
iniciou as investigações, mas diante das dificuldades encontradas acabou
sendo substituída por agentes federais. Havia sempre algo estranho,
como que um trabalho bem estruturado para atrapalhar as investigações,
estivesse acontecendo. Nomes eram apontados, a exemplo de Manoel Rufino,
irmão de Alba, e mais tarde descartados, levando os verdadeiros algozes
a uma certa situação de tranqüilidade. Dois meses depois da entrada da
PF, a Justiça decretou a prisão preventiva da primeira suplente de
vereadora pelo PMDB beneficiada com a morte de Paulo, Maria Jeane
Calixto e do seu irmão Francisco Antenor Gonçalves, como mandantes do
duplo homicídio. A autoria material era atribuída a policiais militares,
uma vez que a acusada tinha trânsito livre no III Batalhão, com sede em
Patos.
Jeane recebeu voz de prisão no dia 05 de
agosto de 1993 e foi imediatamente levada para o II BPM, com sede em
Campina Grande, enquanto o seu irmão se entregou no mesmo mês e foi
conduzido ao Presídio do Serrotão, também sediado na Rainha da
Borborema. Enquanto os dois aguardavam julgamento, os executores
continuavam na impunidade. A vereadora ainda foi transferida para o
Presídio Feminino do Bom Pastor e Centro de Ensino da Polícia Militar,
em João Pessoa. Também chegaram a ser acusados como possíveis autores
materiais, o policial Damião Ferreira e o motorista Ivo Cordeiro, os
quais foram inocentados e liberados pela Justiça, sob a alegação de
falta de provas.
Depois de dois anos presa, a principal
acusada passou a acusar, citando nomes de autoridades e figurões da
política como envolvidos no caso. A imprensa chegou a noticiar como
informações bombásticas, capazes de promover reviravolta. Contudo as
declarações não passaram de bastidores o que contribuiu para a criação
de novos mistérios. O julgamento deveria ter acontecido em Patos, no mês
de março de 1995, no entanto, o pedido de desaforamento feito pelos
advogados de defesa foi aceito pelo Tribunal de Justiça da Paraíba, sob a
alegação de que poderia haver parcialidade na Rainha Sertaneja. Ficou
definido como palco do Júri o Primeiro Tribunal da Capital e a nova data
acabou recaindo em 21 de setembro do mesmo ano. Após a apresentação de
outras alegações, novo adiamento foi determinado pelo Juiz e somente no
dia 28 do mesmo mês os dois sentaram no banco dos réus. Os trabalhos
duraram cerca de vinte horas e culminaram com a absolvição dos acusados
pelo placar de cinco a dois. O então deputado Gilvan Freire, atuou na
condição de assistente da acusação, a exemplo de Ribamar de Lima e
esposa. Presidiu os trabalhos o Juiz Abraham Lincoln e na Promotoria
Newton Carneiro Vilhena. A defesa foi confiada ao advogado João Estrela,
auxiliado por Romeu Abrantes. Ao final o Ministério Público noticia que
vai apelar e assim procede, só que em 30 de abril de 1996, a Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça, à unanimidade, nega provimento a
apelação interposta, tendo sido relator da matéria o Desembargador
Raphael Carneiro Arnoud.
Familiares e grande parte da população
patoense, têm o caso Paulo Porto como uma página triste da história. As
circunstâncias criaram uma imagem negativa para a polícia, a política, a
justiça e circunstanciaram a existência de muitos espaços que
beneficiam a impunidade. A acusada, mais tarde libertada, além dos anos
de prisão, passou a amargar enormes consequências com o ocorrido, pois,
mesmo não tendo tido participação como concluiu o júri popular pouco
conhecido da cidade de Patos, acabou tendo que encerrar sua carreira
política. Concluiu o seu mandato, no entanto, jamais conseguiu se
reeleger para a Casa de Juvenal Lúcio de Sousa. Jeane Calixto chegou a
escrever um livro, sob o título “A Face Oculta da Justiça”, no qual
narra, ao seu modo, todos os episódios que constituíram essa mágoa
jamais apagada do coração da Capital do Sertão da Paraíba.
O caso Paulo Porto passou a constituir
uma bandeira de luta pelo fim da impunidade. Tragado pelo mais alto grau
de violência aos 34 anos de idade, deixou a esposa Maria Gorete e duas
filhas ainda crianças, Tâmara e Tayse. Eleito vereador de Patos em 03 de
outubro de 1992 com 590 votos, pelo Partido Democrático Brasileiro,
Paulo Porto era campeão de audiência com o seu programa “Show da
Cidade”. Mesmo deficiente das duas pernas não usava cadeira de rodas e
durante a passeata da vitória fez questão de vestir um paletó e desfilou
no caput de um carro de som, empunhando um microfone e respondendo a um
dos seus opositores que o discriminava na campanha, com a seguinte
frase: “Quem disse que aleijado não pode usar paletó, se enganou
redondamente”.
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